segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O pão do menino - colaboração de Martha

Hoje a história não é minha, é da Martha, amiga da família e ex-vizinha na Móoca. Conta um dos rituais de comilança do Celsinho. Ele tem vários. A começar pelo relógio de pulso que ele usa só para saber a hora das refeições. Quando dá a hora (12 em ponto no almoço, 15h30 no lanche e 5h30 no jantar), ele já aparece como uma alma penada na cozinha, esperando que sua comidinha esteja pronta. Quando ele morava em casa, não tinha tanto luxo, então ele acordava, descia e fazia seu sanduíche. O chá ele esperava que a gente esquentasse. Os sanduiches sempre tem que conter maionese, pra ficar mais molhadinho. E não pode faltar o presunto ou a mortadela.
Outra mania é a sobremesa. Não pode faltar. Várias vezes, em casa, ele parava diante da minha mãe repetindo: "Dorinha, a sobremesa". Se a resposta fosse "não tem", ele dizia: "Ah, tem sim". E custava a desistir, se é que alguma vez desistiu.
Frutas, nem pensar. Ofereça uma banana, por exemplo, e ganhe um "Vou furar seu olho", como aconteceu em um Natal, depois de muito enchermos ele dizendo que só tinha banana!
Segue a história:
"Quando o Celso tinha apenas 3 anos ele não saia de seu jardim na Mooca. Fugia de todos. Bastava alguém se aproximar ele já entrava em casa a procura dos seus (mãe, irmãs, Ivo e Cio). Acontece, que eu morava a 3 casas da dele. E ele de vez em quando fugia, entrava em minha casa e ia direto numa dispensa, abria o armário e pegava nosso pão. Saia tão feliz lá de casa com aquele pedaço de pão. A minha mãe, como era muito amorosa, ia toda à tarde no Di Cunto comprar pão. Já comprava a mais pensando no Celso. Ao virar a esquina, ela já o avistava e dizia: "- Venha Celso, lembrei de você..." Ele novamente entrava em minha casa, abria o armário e pegava sua parcela de pão. Ele não aceitava tirado do saquinho. Era necessário o rito do armário... Isto virou uma rotina. Acontece, que em 1969 saí daquela casa. Todos entenderam nossa ausência... menos o Celso... ele entrou na casa... não achou o armário e ainda ouviu gritos da nova vizinha... Ele não voltou mais... acabou entendendo que já não se faziam mais donas Lauras na Mooca. Nunca esqueci disso... acho que nem a Dora... Mas saibam que ainda tenho saudades daqueles bons tempos que não voltam mais e de todas aquelas almas boas chamadas: Laura, Sofia, Anésia, Nelly, Ruth, Dona Caté, Dona Lídia...
por Martha"

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